sexta-feira, 25 de novembro de 2005

Uma história de Churchill

Um dos problemas mais básicos, mas infelizmente mais comuns neste nosso Brasil varonil é Liderança. Não, não falo de Autoridade (que isto temos à exaustão) : temos chefes de sobra. O que falta são Líderes.

Sempre fui um entusiasta da História da Segunda Guerra Mundial, e talvez seja por este motivo que os problemas de liderança acabem por me envolver tanto : foi na Segunda Grande Guerra que os exércitos ocidentais começaram à reavaliar suas operações - reavaliação esta que levou, inclusive, ao grande avanço no planejamento e execução de projetos de larga escala (interessados, procurem a história do projeto do submarino Polaris).

Não é casual, então, que o primeiro post real deste blog começe com uma história sobre Winston Churchill - sem dúvida o homem cuja Liderança foi capaz de unificar o mundo contra a ameaça nazista (principalmente porque tudo o que o mundo ocidental queria ver, então, era a "oportunidade nazista" para fazer novos negócios!).

Chega de lero-lero. Vamos ao que interessa.

O MEDO CAUSADO PELA INTELIGÊNCIA

Quando Winston Churchill, ainda jovem, acabou de pronunciar seu discurso de estréia na Câmara dos Comuns, foi perguntar a um velho parlamentar, amigo de seu pai, o que tinha achado do seu primeiro desempenho naquela assembléia de vedetes políticas. O velho pôs a mão no ombro de Churchill e disse, em tom paternal:

"Meu jovem, você cometeu um grande erro. Foi muito brilhante neste seu primeiro discurso na Casa. Isso é imperdoável. Devia ter começado um pouco mais na sombra. Devia ter gaguejado um pouco. Com a inteligência que demonstrou hoje, deve ter conquistado, no mínimo, uns trinta inimigos. O talento assusta."

E ali estava uma das melhores lições de abismo que um velho sábio pode dar ao pupilo que se inicia numa carreira difícil. A maior parte das pessoas encasteladas em posições políticas é medíocre e tem um indisfarçável medo da inteligência. Isso na Inglaterra. Imaginem aqui no Brasil. Não é demais lembrar a famosa trova de Ruy Barbosa:

Há tantos burros mandando
Em homens de inteligência
Que às vezes fico pensando
Que a burrice é uma Ciência.

Temos de admitir que, de um modo geral, os medíocres são mais obstinados na conquista de posições. Sabem ocupar os espaços vazios deixados pelos talentosos displicentes que não revelam o apetite do poder. Mas é preciso considerar que esses medíocres ladinos, oportunistas e ambiciosos, têm o hábito de salvaguardar suas posições conquistadas com verdadeiras muralhas de granito por onde talentosos não conseguem passar.
Em todas as áreas encontramos dessas fortalezas estabelecidas, as panelinhas do arrivismo, inexpugnáveis às legiões dos lúcidos.

Dentro desse raciocínio, que poderia ser uma extensão do Elogio da Loucura de Erasmo de Roterdan, somos forçados a admitir que uma pessoa precisa fingir de burra se quiser vencer na vida. É pecado fazer sombra a alguém até numa conversa social. Assim como um grupo de senhoras burguesas bem casadas boicota automaticamente a entrada de uma jovem mulher bonita no seu círculo de convivência, por medo de perder seus maridos, também os encastelados medíocres se fecham como ostras à simples aparição de um talentoso jovem que os possa ameaçar.

Eles conhecem bem suas limitações, sabem como lhes custa desempenhar tarefas que os mais dotados realizam com uma perna nas costas, enfim, na medida em que admiram a facilidade com que os mais lúcidos resolvem problemas, os medíocres os repudiam para se defender. É um paradoxo angustiante.

Infelizmente temos de viver segundo essas regras absurdas que transformam a inteligência numa espécie de desvantagem perante a vida.

Como é sábio o velho conselho de Nelson Rodrigues: finge-te de idiota e terás o céu e a terra.

O problema é que os inteligentes tem ego muito desenvolvido, gostam de brilhar. Que Deus os proteja.

José Alberto Gueiros.
JORNAL DA BAHIA - Sábado , 23/09/79

Limitar a aplicação dos conceitos expostos neste artigo apenas à Indústria de T.I. (foco deste blog) é claramente injusto - é óbvio que isto ocorre para todos os lados.

Mas além do óbvio fato da T.I. ser minha área de atuação e, portanto, a única da qual eu posso falar com conhecimento de causa, a Tecnologia da Informação possui uma característica singular, que a torna um "Objeto de Observação" ímpar: por ser uma indústria volátil e dependente de bons resultados de curto prazo, Empresas de T.I. enfrentam ciclos de apogeu, glória e amarga decadência que chegam a durar parcos 3 ou 4 anos! É uma indústria inclemente, onde um erro crasso apenas pode sublimar todos os sucessos de um passado recente...

E eis, portanto, que os "nossos medíocres" não ficam muito tempo no poder - faz-se (e vira-se) história muito rápido neste ramo.


Se isto é bom ou ruim, não tenho (ainda) opinião formada...

Levando em consideração o grau de especialização e raciocínio lógico necessário para se estabelecer nesta área, quero crer que muitos destes "medíocres" são pessoas inteligentes que apenas são ainda por demais inseguras e inexperientes para abandonar as táticas "medíocres" mas confortavelmente seguras pelas práticas que realmente trazem resultados (e um bocado de insegurança).
Insegurança e inexperiência cujas raízes estão, à meu ver, na (incrivelmente) longeva batalha entre o Bom Senso (eterno perdedor) e o (Mau) Senso Comum que insiste em fundamentar sua razão nos três Non Sequitur's mais perniciosos da Cultura Ocidental:

Pela inseguranga, perpetua-se a inexperiência - que consolida a ignorância. Da ignorância, nasce o medo - que por sua vez retroalimenta a insegurança... E é deste círculo vicioso que vive a Mediocridade.

Que por sua vez tem causado desperdícios formidáveis - na Educação, na Política, na Indústria, na Saúde, e até mesmo no núcleo familiar: o que torna o combate à Mediocridade um dever cívico.

Solenemente ignorado...

terça-feira, 2 de agosto de 2005

Respeitável Público !!

Sede bem-vindos!
Pois começa, aqui e agora, a Grande Comédia; a trágica e cômica história de um pobre mortal que, sem saber o que fazia, aventurou-se nas artes arcanas da Tecnologia da Informação e lá perdeu-se.
Mas por que "Baudeville"?
Baudeville possui dois significados, não necessariamente mutuamente exclusivos:

Baudville foi uma Software House dos anos '80. Ela produziu alguns dos melhores softwares que já rodei no meus legendários Apple ][ e Apple //e. As Software Houses dos anos '80 são as predecessoras das atuais e pretensas "Fábricas de Software" - que alguns imaginam serem capaz de implementar sem saberem o mínimo sobre o funcionamento de uma Indústria.
É, também, a junção de dois termos, estes sim distintos:

  • Baud : Unidade de medida de transmissão de dados modulados em onda por segundo. Um Baud é uma mudança na modulação por segundo. Nos primórdios da comunicação digital se transmitia exatamente 1 bit por baud - meu primeiro modem era de 1200 Bauds - ou seja, 1200 mudanças na fase da onda por segundo. Hoje em dia os modens são capazes de transmitir vários bits por Baud.
  • Vaudeville : Um estilo teatral norte-americano de vários atos, cujo apogeu se deu entre 1880 e 1920. Era essencialmente uma salada de atos, vairando de malabarismos a shows de mágica, musicais e exibições matemáticas, números com animais, opera, ginástica, atletismo e até palestras de poetas e intelectuais.
Este blog é, então, uma homenagem a um modelo de produção de software comercial onde o importante era entregar um software útil e usável, um software que resolvesse problemas (ao invés de criá-los!). É uma apologia ao tempo em que o importante era satisfazer o cliente (até porque ele tinha a opção de procurar um software equivalente em outra Software House!!), e não seguir regras obscuras que uns poucos iluminados (que pouco ou nada têm de experiência em construção de software!!) julgam (nem sempre erroneamente, admito) adequados.
Neste Baudeville, a distinta platéia rirá, vibrará e emocionar-se-á assistindo a miríade de personagens, malabarismos e histórias (algumas da carochinha...) nos quais, para o seu deleite, este grande teatro tragicômico chamado Tecnologia da Informação se inspira.

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